Nova diligência. Novas falhas. Nova denúncia. Presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Eutanásia, o vereador Marcos Papa (Cidadania) voltou a CBEA (Coordenadoria de Bem-Estar Animal), na última terça-feira (22), para uma nova diligência. O parlamentar foi acompanhado de três advogadas que compõem a Comissão de Direito e de Defesa dos Animais da OAB/Ribeirão Preto.

Apesar de a diligência ter ocorrido as 11h, nem a coordenadora Carolina Vilela e nem o veterinário responsável estavam na CBEA. As funcionárias não souberam responder os questionamentos da comitiva, que, em uma breve circulação pelo local, constatou cães com patas quebradas e animais aparentemente doentes misturados com saudáveis.

Segundo as funcionárias, o contrato do veterinário é de apenas quatro horas por dia. Devido a pandemia, o outro veterinário estaria trabalhando remotamente por ser do grupo de risco. Na saída, Papa encontrou um casal que tentou eutanasiar uma cachorrinha bastante doente, mas o pedido foi negado sem que o animal sequer fosse examinado.

“Permanece o estado de precariedade na Coordenadoria de Bem Estar Animal. Por que permanece? Há mais de quatro anos eu denuncio o que as protetoras e as ongs denunciam há 20 anos. Ribeirão não tem uma política de proteção animal. É obrigação da Prefeitura fazer, mas já que ela não faz, deveria contratar quem o fizesse”, frisou.

Caso Cléo

O vereador usou como exemplo o caso da cachorrinha Cléo, recolhida pela CBEA após ser atropelada. O veterinário da Coordenadoria disse à uma protetora, após exame clínico, que a cadelinha estava bem e sem fraturas, apesar de não andar e urinar com sangue. Levada a uma clínica particular, constatou-se que Cléo estava com fratura na coluna.

“A cidade viu o sofrimento da cadelinha Cléo e nós tivemos aqui a precariedade. Não havia um raio x, nem aqui e nem numa clínica conveniada. Uma protetora, a Cláudia, a levou para uma clínica particular e hoje, felizmente, ela passa bem. Teremos que voltar à CBEA para que nossas perguntas sejam respondidas, é um modo de tensionar a Prefeitura a ter políticas de bem-estar animal”, acrescentou Marcos Papa.

Marcos Papa e Comissão da OAB fazem diligência na CBEA – YouTube

Precariedade

A advogada Fernanda Sica criticou a situação precária. “Infelizmente nossas dúvidas não foram sanadas porque nem a Carolina e nem o veterinário responsável estavam no local. Não sabemos como funciona o atendimento em caso de emergência. Vimos alguns animais com pata quebrada, não sabemos o protocolo que está sendo adotado. Continua sendo bastante assustador. A gente acaba tendo certeza de que pouca coisa mudou, que o descaso com os animais continua absurdamente”, destacou Fernanda.

A advogada Marina Rodrigues constatou animais que aparentemente possuem doenças misturados com outros. “Não sabemos se há risco de contaminação ou não, seria importante saber os critérios adotados aqui para separação dos animais”, afirmou.

Para a advogada Amanda Paccagnella, a Prefeitura falha ao não investir mais em campanhas de adoção. “Tem filhotes pequenos que poderiam estar sendo destinados à adoção e não temos nenhum grande esforço por parte da Coordenadoria de Bem-Estar Animal no sentido de conseguir adoção para esses animais”, ressaltou.

Marcos Papa defende que a Prefeitura use parte da verba de publicidade, estimada em R$ 7 milhões, para campanhas de adoção de animais nas redes sociais. “É mais do que suficiente para destinar para a agência de marketing da Prefeitura, uma causa tão nobre quanto animais disponíveis para adoção. As mídias da Prefeitura deixam a desejar e dinheiro não falta”, enalteceu o presidente da CPI da Eutanásia.

Denúncia

Sofrendo, a cachorra Maria sequer foi atendida pela CBEA. Papa denunciou o novo caso à imprensa. “Nós flagramos uma situação que repetidamente recebemos o testemunho. A dona Enir tem uma cachorra que está em estado terminal. Chegou aqui, não tem nenhum veterinário, a coordenadora não está, mandaram ela embora”, criticou.

Papa ainda acrescentou: “Como deveria funcionar? Chegando na Coordenadoria, o veterinário recebe, faz exame clínico, faz hemograma, se necessário, faz raio x. Não tendo condição realmente de essa cachorra viver, aplicá-la a eutanásia como manda a ciência, como manda o protocolo da medicina veterinária. Agora mandar para casa esse casal, que cuidou dessa cadelinha até agora, alegando que não podem fazer nada? Temos falado com propriedade, com base nas denúncias que recebemos. É triste”.

Moradora do Jardim Monte Alegre, Enir Vieira de Souza e o esposo gastaram cerca de R$ 2 mil com a internação da cachorra Maria em uma clínica particular, por cerca de 15 dias. Exames mostraram que 60% dos pulmões estavam comprometidos, de acordo com Enir, que, ao notar que a cadelinha piorou, pensou em acabar com tanto sofrimento. “Ela está sofrendo e a gente também. Mas aqui é sempre não”, reclamou a munícipe.

O ‘caso Maria’ e as falhas constatadas na breve diligência constam em documento oficial enviado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, responsável pela CBEA.