Domingo "não" Parque

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Domingo "não" Parque

Hoje, passei a manhã pensando no Zé, um cara bacana, que mora aqui em Ribeirão Preto com a família. Como ele ganha pouco, no final de semana só lhe resta procurar opções gratuitas de passeios para fazer com a mulher, dona Maria, e com seus dois filhos, Mariana, que fez 12 anos mês passado e Juninho, que ainda é um menininho de colo. Como gosta da natureza e precisa fazer um pouco de exercícios, Zé decide ir com todo mundo a um Parque Municipal. Ele que não vai ficar dentro de shopping o dia todo. Mesmo que o ar condicionado seja quase uma benção, ele não tem dinheiro para gastar a toa e não gosta de lamber com a testa. No mais, Zé se consola em seus valores: antes um passarinho voando que uma sacola cheia produtos bobos na mão.

O Zé mora na zona leste e não tem muitas opções de lazer por lá. Até teria, se a Lagoa do Saibro não fosse um canto abandonado da cidade e já tivesse virado o parque que nasceu pedindo pra ser, mas ainda não é assim. Então, se quiser curtir um parque, ele terá que chegar mais pro meio da cidade, pra onde não dá pra ir de bicicleta – a ciclovia da avenida de perto da casa dele acaba ligando o bairro a lugar nenhum e o Zé ainda não é doido de arriscar seus meninos e a mulher no trânsito de Ribeirão Preto!
Ele pensa lá, com seus botões, em juntar a família e ir de busão mesmo. Mas pegar um coletivo no domingo é dureza. Aqui temos poucos horários e os itinerários não são muito práticos, o que o faria ter que ir até o centro para, depois, chegar aonde deseja pegando um outro carro. Tudo isso, correndo o risco de ficar lá em pé no ponto, no Sol, a esperar a sua conexão. Menina reclamando, menino chorando, mulher com cara de arrependimento…

Mas hoje é domingão e ele diz pra si mesmo que vai curtir um parque com a família, sentar na grama, ver os passarinhos, levar as crianças nos brinquedos. Junta os trocos das passagens, se enche de coragem e, antes de fazer a proposta para os seus, se apercebe de sua desventura: mesmo que consiga chegar aonde deseja, a maioria dos parques está fechada, sem nem previsão de reabertura. O site da prefeitura não diz isso, mas ele sabe, ele leu no jornal.

No Genaro, dizem que a licitação da obra não teve procura e tudo ficou por isso mesmo. No Maurílio Biagi, teve até denúncia do vereador (este que vos escreve) contra a condição perigosa em que se encontrava o playground para, logo depois, haver o dito surto de carrapatos – o parque tá lá abandonado, virou um cercado pras capivaras, também sem previsão de abrir para as pessoas. Enquanto isso, o Rubens Cione ficou no meio do caminho, uma obra nunca terminada, cheio de desculpas e por aí vai. Onde tem portão aberto, como no Curupira ou no Raya, falta bebedouro, iluminação e sinalização.

O Zé olha pra mulher com o filho nos braços, vê a cara de tédio da sua menina mais velha, dá um suspiro dolorido. Só restou à família sentar na frente da TV e ver qualquer coisa, enquanto a segunda-feira não vem.