Em entrevista, Marcos Papa bate forte: "A prefeita é desqualificada para governar"

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Entrevista Tribuna

Entrevista concedida à jornalista Adriana Dorazi, do Jornal Tribuna de Ribeirão Preto veiculado em 22 e 23 de março de 2015

Marcos André Papa, de 49 anos, é um dos mais combativos parlamentares contra a atual administração de Ribeirão Preto. Bacharel em Direito, já fez parte da administração pública antes de ser eleito com 4.941 votos. É ribeirão-pretano, mora com a família e preside a Unificação Kardecista. Atualmente sem partido, desde que saiu do Partido Verde por discordar das diretrizes da liderança nacional, o vereador trabalha para a consolidação da Rede Sustentabilidade. “Em todo o Brasil já foram coletadas mais 70 mil assinaturas somente este ano, que ingressam no cartório na próxima semana junto com o que conseguimos no ano passado. Acredito que a Rede agora consiga registro”, antecipa.

Marcos Papa também já foi gerente executivo da Fundação Instituto Polo Avançado da Saúde de Ribeirão Preto (FIPASE), onde estruturou o convênio entre USP, Estado e Prefeitura para a implantação do Supera – Parque de Inovação e Tecnologia. É autor de leis polêmicas, como a emenda à Lei Orgânica do Município (LOM) proibindo o prefeito de convocar os vereadores para votações entre Natal e Ano Novo, quando a população não está “tão atenta”. Reuniu a sociedade contra as irregularidades no edital da Parceria Público-Privada (PPP) do Lixo. Foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Público e aguarda a manifestação de entidades civis para instaurar uma Comissão Processante (CP) contra a prefeita Dárcy Vera (PSD) por remanejamento de verbas do Instituto Previdenciário Municipal (IPM). Em entrevista exclusiva ao Tribuna, Marcos Papa “soltou o verbo” contra tudo que tem visto de errado em Ribeirão Preto. O parlamentar fala sem medo sobre os pontos mais polêmicos do governo incluindo a troca de acusações com a chefe do Executivo e o recém lançado pacote de contingência.

Tribuna: Como começou a sua trajetória política?

Marcos Papa: Disputei a primeira eleição em 2008, quando fiquei como primeiro suplente do PV. Fui trabalhar na Secreta¬ria de Governo a convite do então secretário Paulo Saque. Em 2010, deixei a secretaria para me candidatar a deputado, conquistando quase 12 mil votos, sendo 9 mil em Ribeirão Preto. É um número pequeno para a eleição, mas bem significativo para um iniciante na política. Isso me motivou muito a disputar a eleição em 2012 quando fui eleito como o oitavo vereador mais votado no município, com expressiva votação em seções que formam um colégio eleitoral basicamente composto por formadores de opinião. Desde aquela época não fazia parte da coligação governista, trabalhei na Secretaria de Governo muito mais pelo meu relacionamento com o secretário. Quando Paulo Saque deixou o cargo, apenas cinco meses depois de ter assumido, por um profundo desgaste com a prefeita, coloquei meu cargo à disposição, mas ela pediu que eu ficasse. Permaneci até março de 2010 e saí sem nenhum problema de relacionamento. Era um grande tarefeiro, nunca participei de organização política, das decisões estratégicas.

Tribuna: Depois de eleito, mesmo tendo participado do governo no primeiro mandato, o senhor já optou direto por se posicionar como oposição à Dárcy Vera?

Marcos Papa: Na eleição de 2012, o Partido Verde apoiou o candidato Duarte Nogueira. Foi um apoio muito ostensivo porque acreditávamos que era a melhor opção para a cidade. Mesmo antes disso eu já vinha descontente com o governo Dárcy Vera. Pude olhar bem esse governo e ver também como as pessoas de fora estavam vendo essa administração. A reeleição foi uma tragédia para essa cidade, infelizmente, está evidente o desgoverno. Não conseguimos provar o uso de funcionários municipais na campanha, mas isso era visível. Tanto na questão do uso das verbas de publicidade da prefeitura, quando do emprego de comissionados. Respeito a decisão contrária da Justiça, mas não concordo: era claro o uso da máquina pública em prol da reeleição da prefeita. Além disso, há falta de capacidade em delegar funções, pois foi feita uma grande coligação, mas sem méritos para ser capaz de fazer a cidade se desenvolver efetivamente. A articulação política existe e pode ser saudável em qualquer nível de governo, mas para governar de fato e não para fazer o que está sendo feito aqui.

Tribuna: Quais os problemas mais críticos que o senhor aponta na administração atual?

Marcos Papa: Acredito que o prefeito deva gerenciar a cidade e não permitir o que vemos, por exemplo, no Departamento de Águas e Esgoto (Daerp). Estão aca¬bando com o Daerp e a prefeita não tem pulso de exigir dos seus aliados que se faça um trabalho decente. Uma prefeita não foi eleita para permitir que fosse feita uma li¬citação da coleta de lixo, como queriam fazer a Parceria Político-Privada (PPP), que estava sendo empurrada ‘goela abaixo’ da população, com sérias irregularidades e evidências de superfaturamento. Tanto tínhamos razão que entramos na Justiça contra a PPP do Lixo e nos foi dada razão. Os desembargadores concordaram, por unanimidade, com oito dos nossos onze argumentos contra a licitação. Logo ao as¬sumir meu mandato, já me coloquei como oposição, mas sinceramente não esperava que fosse necessário fazer uma oposição tão dura. Também não esperava que esse governo fosse degenerar tanto. Ainda temos outras questões gravíssimas, como a minha relatoria na CPI do Transporte, mais recentemente as irregularidades em verbas de obras do PAC, assuntos nos quais a prefeitura meteu os pés pelas mãos, não trabalhou direito e prejudicou a cidade in¬teira. Também há questões simples, como arrumar os bebedouros do Parque Curupira, garantir a limpeza ou ruas sem buracos, nada está sendo feito direito.

Tribuna: O senhor tem recebido críticas do governo e dos próprios vereadores que a sua oposição é ”eleitoreira”. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Marcos Papa: Os fatos reais desmentem tanto o governo quanto estes que se afobaram em dizer eleitoreira. O que é mais eleitoreiro: dar uma carta branca para a prefeita fazer o que quiser da cidade ou brigar como nós brigamos para impedir a concorrência irregular, superfaturada e direcionada como a do lixo? Não fosse a nossa coragem de ir contra um processo que iria endividar a cidade por 20 anos, sem nenhuma garantia de que a prefeitura poderia exigir uma coleta de lixo ambientalmente correta e economicamente favorável aos cofres municipais. O parlamentar, o político fala muitas coisas, mas na verdade são as atitudes que re¬velam quando se trata apenas de um falastrão ou se de fato o que está em jogo são os interesses da população. Porque tem gente que fala que defende a cidade, mas quando a gente confere o quadro de votação fica claro que o que está sendo defendido são os interesses da prefeita. Não vale a pena ser situação, só por ser situação, fechando os olhos para o horror e o descalabro que é esse governo. Assim como não se pode ser oposição só pela oposição.

Tribuna: Houve uma troca de acusações entre a prefeita e o senhor sobre o repasse para as entidades. O Daerp também disse que houve ”má-fé”” da oposição na representação contra a licitação de R$ 69 milhões. Como o senhor vê essas posturas?

Marcos Papa: As acusações da prefeita contra mim eu entendo, porque ela está sendo desmascarada dia após dia. Recentemente, no desespero, ela mentiu sobre a emenda que destinava R$ 2 milhões da verba do gabinete para as creches. Peguei a prefeita ‘no pulo’ porque para não mexer na verba de gabinete, ela veta e, assim como para um assaltante que bate a carteira, grita: ‘Pega ladrão’. Chamou a imprensa pra justificar a atitude; mente, mostra documentos falsos para os jorna¬listas e para as entidades. Tem dirigente de entidade, com quem eu convivo há 30 anos, que mostrou e disse o que aconteceu de verdade. Então eu digo e repito: a prefeita é desqualificada para governar, a cidade está sofrendo por isso. Quando ela chama as entidades e a imprensa e mente, perdeu a condição moral de continuar no cargo.

Tribuna: O senhor pretende instaurar uma Comissão Processante contra a prefeita com base no repasse de verbas do IPM e das propagandas em pontos de ônibus?

Marcos Papa: Apesar de ter construí¬do provas robustas, que vão propiciar um embasamento jurídico sólido para a Co¬missão Processante e o consequente pedido de afastamento da prefeita, não posso pessoalmente fazer o pedido para não ficar impedido de votar pela cassação dela em um futuro processo. Então, despachei ofícios para todas as entidades da sociedade civil de Ribeirão Preto propondo um estudo dessas questões que falamos. Essas entidades estão debruçadas sobre os documentos e nos darão uma resposta. Os políticos que assumem mandatos com a promessa de resolver os problemas da população precisam fazer isso. A prefeita Dárcy Vera fez muitas promessas que não cumpriu, promessas inclusive assinadas e nas peças publicitárias.

Tribuna: O que o senhor achou do pacote de medidas para corte de gastos?

Marcos Papa: De novo a prefeita está requentando um assunto repleto de factoides que ela vem lançando há um ano. Até agora nenhuma providência foi to¬mada, a cidade continua desgovernada. É verdade que a presidente encurralou o país em uma situação de crise, mas isso não é desculpa para a prefeita Dárcy Vera. O brasileiro que não se informa e vive refém do marketing eleitoral é fácil de ser enganado, mas uma prefeita deveria estar mais atenta porque essa crise não é nova e houve tempo para se preparar para tempos difíceis. Dizer que economizar café e açúcar é economizar dentro de uma administração pública é a confissão da mediocridade. O que vimos nas recentes manifestações foi isso, pessoas cansadas de corrupção, mentiras. O protesto de Ri¬beirão Preto, inclusive, foi tão numeroso e positivo também como um reflexo da in¬satisfação das pessoas. A população não suporta mais o uso da máquina pública por pessoas que só desgovernam.

Tribuna: O senhor acredita que poderá sair candidato pela Rede Sustentabilidade nas Eleições 2016?

Marcos Papa: Quando decidi sair do PV por incompatibilidade com algumas diretrizes do comando nacional do parti¬do, eu e outros companheiros que saíram juntos decidimos encampar a bandeira da Rede Sustentabilidade. A exigência é que tenhamos 492 mil assinaturas em sete estados. Nós apresentamos 700 mil assinaturas em onze estados, mas o cartório eleitoral aceitou apenas 450 mil e rejeitaram 250 mil. Chamamos isso de um golpe cartorial. Em Ribeirão Preto, a aprovação foi muito boa, mas na grande São Paulo, por exemplo, foram em média 70 rejeições em cada 100 fichas. Esse processo é jurássico, manual, conferência por caderno de votações, o que dificulta muito. Podíamos ter recorrido, mas estava em cima da hora. Agora recomeçamos essa coleta de assinaturas em janeiro porque faltam apenas 42 mil assinaturas. Em todo Brasil já foram coleta¬das mais 70 mil assinaturas que ingressam no cartório na próxima semana. Acredito que a Rede agora consiga registro. A Rede Sustentabilidade conseguindo o registro me filio e deve ser por essa nova legenda minha nova candidatura.

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